segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ai meu Deus, estou cercado de tucanos!

Vencer com 77,27% dos votos, por incrível que pareça, não foi o grande trunfo do Beto Richa nessas eleições. Era evidente que a prefeitura ia acabar nas mãos dele; além do alto índice de aprovação (que, desde a eleição de Barrabás, não quer dizer exatamente que o cidadão mandou bem), a fraqueza dos quadros da oposição e a alta rejeição e forte campanha midíatica contrária ao governador Requião apontavam que, invariavelmente, Beto ia ganhar. Era uma questão de saber se o Barcelona ia ganhar do Combate Barreirinha de 5x0 ou de 10x0. O que realmente valeu a pena para o atual prefeito e futuro governador do Paraná – blé! – é a total desarticulação da oposição na câmara dos vereadores.

Esse deveria ter sido o plano da oposição: reforçar suas bases na câmara municipal. A situação era calamitosa: PMDB perdera todos os seus vereadores para partidos da base aliada de Beto Richa. Partido do governador do estado não tinha sequer um emedebista veio de guerra Praça Eufrásio Correia. Os quadros do PV e do PCdoB estavam votando majoritariamente junto com a base aliada, e o mesmo vale para PTB e PRTB. No fim, sobrava para os cinco vereadores do PT fazerem alguma oposição.

Cada partido de oposição deveria ter se ocupado de uma estratégia diferente. PT precisava aumentar seus quadros, conseguir votos. Já o PMDB de Requião não podia se contentar com isso, para não repetir a falha do passado. Devia mesmo era apostar em gente próxima, gente com algum alinhamento histórico com o governador. Já PV e PCdoB precisavam largar a pecha de partido de aluguel e garantir gente alinhada com o ambientalismo e com o, ahm, “comunismo” em seus quadros.

Todos, sem exceção, foram engolidos por Beto. Sua base aliada oficial subiu de 24 para 28 vereadores, o que por si só já é grande coisa. Mas a situação ficou ainda pior para qualquer um que faça oposição em Curitiba. Dos dez vereadores não pertencentes à base aliada, apenas três podem ser considerados de fato oposição a Beto Richa.

O PV, junto com o PT, acabou sendo o partido de oposição mais bem sucedido nas urnas: conseguiu garantir três vagas na câmara. No entanto, os três ocupantes não tem absolutamente nada a ver com a causa ambientalista, ou com qualquer causa. Um deles é professor Galdino, aquele mesmo, que conseguiu espantosos onze mil votos sem apresentar sequer uma proposta. Ele declara, por exemplo, que só é filiado ao PV porque tem que se filiar a algum partido para ser candidato. Uma opção curitibana pelo niilismo. Já Aladim é um pouco mais coerente: sendo ex-jogador do Coxa, faz algum sentido ser do partido verde. O terceiro é Roberto Accioli, vereador mais votado de todo o pleito e membro da turma do “atirar antes e perguntar depois”. A pergunta é a seguinte: um sujeito contrário aos direitos humanos vai se importar com um peixe morto no rio Belém?

Já o PMDB foi um pouco mais coerente com o que deveria ser feito: lançou candidatos com potencial de votos mais alinhados a Requião do que a Mauro Moraes. Mas não adiantou nada: nenhum requionista passou da casa dos dois mil votos. O partido conseguiu apenas dois vereadores: Algaci Túlio, emedebista por acidente, e Noêmia da Assembléia. Fica a pergunta: quem é Noêmia da Assembléia na noite?

(Assembléia vem de Assembléia de Deus. Para bom entendedor...)

Já os outros dois eleitos da oposição foram Julião da Caveira, do PSC, e Pastor Valdemir, do PRB. O que um líder de torcida pode agregar para o espaço democrático? “Excelentíssimos vereadores, gostaria de propor uma moção de repúdio ao Keirrison”. Já Pastor Valdemir é da igreja... é da igreja. Não vai querer indispor sua congregação com o poder municipal, e deve mudar de lado já no dia primeiro de janeiro.

O principal erro, principalmente do PT e do PMDB, foi não investir suficientemente nas campanhas de vereadores. Requião resolveu ir espalhar seu apoio no interior, onde lhe era mais conveniente. O tiro saiu pela culatra, e o governador ficou novamente sem nenhum vereador em Curitiba. Já o PT até tentou, mas... não deu. Não deu mesmo. Além de continuar isolado, perdeu duas cadeiras. Vai ser só mais um partideco sem voz no meio de um mar de situacionistas de coração e de ocasião.

Já a frente de esquerda, a única que realmente propunha uma oposição mais combativa dentro da cidade, lançou apenas cinco candidatos. Se é preciso de vinte mil votos para conseguir uma única cadeira na câmara, isso significa que os cinco candidatos deveriam fazer uma média de quatro mil votos cada. Isso tendo um orçamento mínimo. Deviam ter aprendido com o PSL (quem?): o partido da base governista lançou tantos candidatos bizarros, mas tantos candidatos bizarros que, somando tudo, conseguiram emplacar uma cadeirinha na câmara. Somando os cem, duzentos votos de cada José da Farmácia, Joaquim da Padaria e Maria do Posto de Saúde, elegeram algum João da Loja de Ferragens para dizer sim às propostas governistas. Fica a pergunta: pra quê? E outra, mais importante: vocês chamam isso de democracia?

A conclusão é que nunca foi tão fácil para o Beto Richa governar a cidade. Nem durante a ditadura o poder executivo teria uma base aliada tão forte dentro do legislativo. Os próximos quatro anos devem ser de mera imposição: o que o PSDB decidir, tá decidido. E os problemas vão seguir os mesmos, o modelo seguirá o mesmo, tudo seguirá exatamente a mesma coisa: os ônibus entupidos, a especulação imobiliária tomando conta de todos os bairros, as mesmas falcatruas, os mesmos esqueminhas com a iniciativa privada de sempre. E ai de quem for contra!

Um comentário:

amanda audi disse...

Esses tucanos tão aí rodeando nossas cabeças, prontos a dar uma bela bicada.

Hoje levei um susto quando vi Beto e Fernanda na minha frente. Deu dó... Eles não são gente de verdade.