Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo
_____________________________________________________________________Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo
Pobre do homem que está à minha frente.
Tão feio, tão vazio, tão sujo. Seus cabelos já são ralos, as entradas fundas e as estradas, muitas. Ele fala e ninguém presta atenção; quando não diz nada, não o respeitam. Suas roupas são gastas, seu linguajar é antiquado, ele ri sem dentes por pura vergonha.
Pobre do homem que está à minha frente.
Ele é bom, é educado, não mastiga de boca aberta só pelo prazer de irritar. Ele é tão carinhoso, tudo que faz é com empatia. Sempre faz sorrindo as coisas que peço chorando. Suas mãos são velhas e calejadas, de tantos amores, tantas enxadas, todas as noites em claro. Seu falar é brando, está sempre abaixo do meu.
Pobre do homem que está à minha frente.
Ele é tão alto, tão imensamente enorme, ofusca todo o brilho da noite estrelada. Mas seus olhos estão voltados para cima, ele gosta de ver o céu, embora todo mundo só esteja olhando pra ele. E ele olhando pra cima. De tão alto, tem a cabeça no céu. E os pés no chão, bem fincados na terra vermelha. Terra da roça. Pés agora apertados em sapatos de couro com cadarços e meias novas. Ele fala das notícias do dia, e também de geografia, de causos, de passarinhos, fala de qualquer coisa do mundo. Quando fala; porque quase não diz, e quando abre a boca é mais para si que para os outros. E todo mundo só olhando pra ele. Diz, e seus pés continuam em sapatos de couro que nunca serão usados, ainda ansiando por terra.
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