sábado, 15 de novembro de 2008

sem título


ando na rua escura uma neblina e penso em perguntar as horas para quem quer que seja mas não há alguém e não há pulso nem relógio e de súbito um infinito desejo de entender o que faço nesse lugar ó Deus como quero entender o que faço e acordo o suor na face o cabelo nervosamente desordenado o que faço aqui Deus me diga por favor e levanto dois pés no chão como sempre água no rosto o espelho me diz por aqui Manuela compreenda seus olhos dois redondos espelhos que questionam a função de olhos e bocas e narizes e cabelos na face da terra.


caminho pela rua clara os olhos reclamam a claridade e o dia está a raiar mais azul que o normal e não há neblina e não há relógio mas sei que é manhã e que aurora se ergue impávida no firmamento que eu tanto amo e eu passo a entender um pouco e a calma toma conta do meu coração e eu olho para os pés que caminham e sinto-me parte de um mundo e o espelho reflete flores roxas e amarelas e crianças frescas e tudo parece tão fácil e doce e lindo e o sorriso.


noutra hora ainda não sei a hora mas sei que choverá é aquele cheiro Deus o aroma que só as gotas d’água têm em contato com a grama verde com o concreto da minha urbe quero me colocar em baixo das nuvens e quero que a chuva molhe meu coração, quero me afogar na precipitação o coração é precipitado o que fazer é primavera e as flores são roxas e amarelas e a chuva cai do céu todos os dias na mesma hora o céu fica preto e ela cai e lava todo o mundo e lava todas as almas é tempo de renovação.


e agora eu sei que é noite porque o céu está preto mas não como céu de chuva que já limpou tudo o que estava sob a terra deixando poças que refletem os fios de postes e as folhas de árvores mas é noite e o coração dela é quero sentir algo que não sei bem palavrear que é um ofício dolorido mas é um doer estranho mas não sei o que pensar nessa hora e chega a hora de desejar um mundo uma nuvem um espelho de gritar ao mundo que o coração é livre e que posso sentir o mundo à minha volta.

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