"A photograph is a secret about a secret. The more it tells you the less you know".
Diane Arbus
A fotógrafa vestia um vestido preto sóbrio. Os cabelos: curtíssimos - ela mesma havia cortado. O céu daquele dia de 1962 era azul e N.Y.C clamava por sua Rolleiflex. Desceu os degraus de seu apartamento vagarosamente, câmara nas mãos. Seguiu sem refletir ao Central Park, sem enxergar nada que aqueles olhos incompreensíveis poderiam se interessar.
A atmosfera do parque era de domingo – as mães passeavam com os meninos e as meninas e os carrinhos de bebê; olhavam para Diane, uma mulher sozinha e uma câmara. Ela ainda não se acostumara com a condição. E naquele domingo nada parecia captar seus olhos. Aquela Diane estava sempre a buscar instantes de humanidade perturbadores, mesmo sem conscientemente saber disso.
Diane parou. Os olhos fixos em um rapazinho loiro, uns nove anos no máximo. Ele usava uma camisa estampada com brasões – todos os botões fechados. Como mandava o figurino de rapazinhos loiros de nove anos de 1962, trajava também calças curtas, suspensórios – um deles caído sobre o cotovelo -, tênis com solado de borracha e meias levantadas. Do alto de suas pernas finas, o rapazinho encarou Diane; ela não se movia.
Com a câmara fixa nas mãos e os olhos nos olhos do rapazinho – Diane escolheu uma ‘Rollei’ para poder olhar para os olhos dos retratos – não fez nada, esperava um sinal de identificação. O rapazinho se pôs nervoso com aquele olhar, e Diane percebeu que ele carregava uma granada de brinquedo e não houve tempo para absolutamente mais nada e apertou o disparador ua Rolleiflex rápido com se puxasse o pino de uma granada, Diane e o rapazinho explodiram no Central Park.
Depois daquele instante decisivo, e de se recomporem da explosão, Diane pediu ao rapazinho diversas poses, mãozinhas na cintura etc. Mas ela sabia que naquele rolo de filme, o sal de prata já tinha fixado a luz que desejava.
A foto Child with toy hand grenade in Central Park, N.Y.C., 1962, está aqui.
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