quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

No fim, meu bem, a gente junta os cacos

Desorganização, pra mim, não é defeito. Talvez porque eu só funcione em modo de curto-circuito, uma peça que já saiu de fábrica inconsertavelmente defeituosa. Talvez porque eu só funcione quando não planejo, em cima da hora, e com aquele simpático diabinho soprando ao ouvido que “não vai dar tempo, não vai dar tempo”.

De forma ou outra, com ou sem álibi, não considero minha desorganização um defeito. Ser desorganizado é uma forma de ser organizado às avessas, um jeito de sair do marasmo, conectar idéias que de outra forma jamais estariam na mesma pasta. Desorganização também é uma forma de raciocinar, de olhar o mundo. Nem certa, nem errada; apenas organizada de maneira desordeira.

Jamais consegui ter uma estante de livros. “O apartamento é pequeno, não cabe mais nada”, desculpo-me comigo mesmo, a fim de aliviar a consciência. Fica tudo mais ou menos guardado, mais ou menos jogado, numa parte do guarda-roupa (guarda-roupa? Todos no aguardo do novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, previsto pra fevereiro). Desesperadoramente empilhados, parecem saltimbancos prestes a cair. Claro, nada é catalogado, separado, organizado. Henry Miller convive com Dostoiévski, Norbert Elias com Maquiavel, Cristovão Tezza com Cortázar; João Ubaldo com Capote, Borges com Kerouac. Uma orgia! Uma temeridade! Nas proximidades, as camisas convivem com as camisetas, as calças com os calções, as cuecas com as meias; há baralhos, dinheiro esquecido pelos bolsos, moedas que se perdem para todo o sempre.

Como administrador, então, fracasso absolutamente. O dinheiro vem e o dinheiro vai sem que tenha tempo de pedir notícias do mercado financeiro. Cerveja na esquina, saquinhos de pipoca... Falta para a conta da internet, para as pendências com os amigos, para quitar a dívida com o pai. Tenho o excelente hábito de me recusar a fazer contas, cálculos financeiros. Vai sobrar mês, eu sei, mas quem se importa? Se eu parar agora também vai sobrar noite, confere? Que sobre o mês, ora pois!

Nem o computador, que deveria ajudar depravados como eu, salva-se. O disco rígido é mais desorganizado que puteiro de quinta e às vezes, apesar de meu ateísmo, levanto as mãos aos céus e agradeço ao deus todo-bondoso pelo “localizar”.

Não me pergunte quando vence a luz, quando é a prova. Eu não sei. Na vida, sou um neurocirurgião com mal de Parkinson, um bêbado desastrado numa loja de porcelanas. Vou esbarrando no mundo, derrubando a prataria. Então, olho para o balconista e pergunto, com o semblante um tanto besta:

- Dá pra colar?


PS.: O Diazepam naufraga, mas eu, que não sou capitão nem nada (talvez mais nada que qualquer outra coisa), insisto em ir junto.

Um comentário:

Mari Cioffi disse...

Caralho, Sandoval, a gente combinou que tava de férias coletivas!