Dia desses, meu tio Helinho decidiu que era hora de mostrar a seus filhos, Julio e Jaime, o lugar onde nossa doce tia Jane foi enterrada. Achou que os meninos estavam prontos para entender essas coisas de enterro, morte, cemitério sem ficarem tão abalados.
Levou os dois para o cemitério de Santo Amaro e, estando no Recife, obviamente fazia sol. “Ô calor da gota!”, nada propício para uma daquelas cenas clichês de enterro dos filme: centenas de guarda-chuvas pretos se aglomeram em meio a gotas e lágrimas torrenciais. Tio Helinho fez tudo como manda o figurino: comprou flores, rezou com os meninos, contou-lhes direitinho o que tinha acontecido e começou a explicar tudo sobre o cerimonial de um enterro.
Criança é bicho curioso, e esses meus primos são dois moleques ligados no 220. Depois de toda a explicação do pai, começaram a interrogá-lo incessantemente e colocaram em suas cabecinhas que queriam-porque-queriam ver como era um enterro. “Ahh painho! Bora ver um!” Meu tio, imagino que calmamente, explicou que não era bem assim, que não se pode seguir qualquer enterro. Usou de todos os argumentos, mas eles não se convenceram.
No meio de toda essa argumentação de pai e filhos, veio chegando uma pequena multidão, acompanhando um enterro. Não teve jeito: os três tiveram que segui-lo. Tio Helinho não podia se sentir mais estranho: “Onde já se viu minino! Seguir enterro dos outros!”
Enquanto Julio e Jaime observavam tudo minuciosamente, meu tio se põs a observar também. “Ôxe.... eu conheço aquele homem...”. Quanto mais olhava as pessoas, mais conhecidos ele identificava. “Oxente... qué isso? Quem morreu, meu Deus?”. Aconteceu, então, o que ele temia, um homem trajando preto olhou para ele, condescendente, encostou a mão em seu ombro e proferiu as mais inesperadas palavras: “Meus Pêsames...”. Pronto. “Eita, to ficando abestalhado!?”
Passado o choque, ele descobriu que era o enterro de sua tia-avó, tia de meu avô, bastante distante. E meu avô não pôde ir até a cerimônia o que dificultou ainda mais a descoberta do mistério, não fosse pelas mentes curiosas de Jaiminho e Julinho... “Bora lá, painho...”.
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