quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O verdadeiro sonho americano

Com um carro alugado e o porta-malas lotado dos mais diversos tipos de alucinógenos, os dois cruzam estradas insólitas e desérticas. O ideal almejado é o mesmo: adentrar o coração do chamado Sonho Americano. E eles o fazem sem cerimônias, chutando a canela de quem quer que esteja na frente. Arrombam as portas do conservadorismo estadunidense, debocham dos sonhos medíocres da classe média e atropelam toda e qualquer moralidade, com o objetivo único de desnudar a América. A América do submundo, dos bares de beira de estrada, dos marginais, da cultura transgressora; a América dos loucos, que pertencera aos beatniks e, mais recentemente, aos hippies. Por fim, a América que o tal do american way of life, tão propagandeado ao resto do mundo, tentava ocultar – mas que, na verdade, é o seu mais profundo âmago.



"O que eu estava fazendo aqui? Qual era o sinificado desta viagem? Estaria eu apenas vagando por aí por alguma agitação vinda das drogas? Ou eu realmente havia vindo a Las Vegas para escrever uma reportagem? Quem são essas pessoas, esses rostos? De onde elas saíram? Elas parecem caricaturas de vendedores de carros usados de Dallas e, por Deus, há um monte delas às 4h30 de um domingo de manhã, ainda buscando o Sonho Americano, aquela visão do grande ganhador emergindo do caótico último minuto pré-amanhecer de um velho cassino de Vegas".


"Muito estranho para viver, e muito raro para morrer”, diz Raoul Duke, alter-ego de Hunter S. Thompson no livro Fear and Loathing in Las Vegas. Ele se referia ao amigo, sob a alcunha de Dr. Gonzo, mas também a si mesmo e a toda a corja de malfeitores que fazem o mundo girar. E giram com ele. Thompson escancarou o jornalismo, enfiando o dedo nas feridas da América selvagem e berrando opiniões. Mas só até 2004, quando meteu um tiro na cabeça após uma longa vida de idas e vindas, letras, medos e delírios. A busca pelo Sonho Americano ainda não acabou - ela continua imersa em todos os outros insanos sofredores apaixonados que renascem todos os dias em suas estranhezas.

Um comentário:

sandoval matheus disse...

o cara tentou a vida toda e não teve entorpecente que desse cabo dele. por fim chamou na chincha e meteu uma bala nos cornos ele mesmo. não sei exatamente o que leva um sujeito a se suicidar aos 64 anos, mas, enfim: o fato é que vc pode até não gostar de thompson, mas precisa admitir que ninguém escrevia como ele.